quarta-feira, 7 de julho de 2010

Gibran Khalil Gibran


Na situação atual em que nos encontramos. Onde ficar alegre com o que é feito pelo homem é quase impossível. Temos que olhar para as poucas pessoas que realmente produziram o bem.

Gibran Khalil Gibran foi uma dessas pessoas! Nasceu no Líbano em 1883. E além de poeta, escritor, artista plástico, filosofo, foi um revolucionário! É, para todos que estão decepcionados com a humanidade, um Oasis onde se pode descansar e desfrutar da grandeza que o homem poderia ser.

Sem mais delongas, mais um texto que você nunca vai ver na mídia...

Wagner S. Simeone




A violeta que se tornou rosa

Havia num bosque isolado uma bonita violeta que vivia satisfeita entre suas companheiras.

Certa manhã, levantou a cabeça e viu uma rosa que se balançava acima dela, radiante e orgulhosa.

Gemeu a violeta dizendo:

- Pouca sorte tenho eu entre as flores! Humilde é meu destino! Vivo à terra, e não posso levantar a face para o sol como fazem as rosas.

A natureza ouviu, e disse à violeta:

— Que te aconteceu, filhinha? As vãs, ambições apoderaram-se de ti?

— Suplico-te, ó Mãe poderosa, disse a violeta:

— Transforme-me em rosa, por um dia só que seja.

— Tu não sabes o que estás pedindo, retrucou a Natureza.

— Ignoras o que se esconde de infortúnios atrás das aparentes grandezas.

— Transforma-me numa rosa esbelta e alta, insistiu a violeta. E tudo o que me acontecer será a conseqüência dos meus próprios desejos e aspirações.

A Natureza estendeu sua mão mágica, e a violeta tornou-se uma rosa suntuosa.

Na tarde daquele dia, o céu escureceu-se, e os ventos e a chuva devastaram o bosque.

As árvores e as rosas foram abatidas.

Somente as humildes violetas escaparam ao massacre. E uma delas, olhando em volta de si, gritou às companheiras :

— Hei, vejam, o que a tempestade fez das grandes plantas que se levantavam com orgulho e impertinência.

Disse outra: — Nós nos apegamos à terra; mas escapamos à fúria dos furacões.

Disse uma terceira: — Somos pequenas e humildes; mas as tempestades nada podem contra nós.

Então a rainha das violetas viu a rosa que tinha sido violeta, estendida no chão como morta. E disse:

— Vejam e meditem, minhas filhas, sobre a sorte da violeta que as ambições iludiram. Que seu infortúnio lhes sirva de exemplo! Ouvindo essas palavras, a rosa agonizante estremeceu e, apelando para todas as suas forças, disse com voz entrecortada:

— Ouvi, vós, ignorantes, satisfeitas, covardes. Ontem, eu era como vós, humilde e segura. Mas a satisfação que me protegia também me limitava. Podia continuar a viver como vós, pegada à terra, até que o inverno me envolvesse em sua neve e me levasse para o silêncio eterno sem que soubesse dos segredos e glórias da vida mais do que as inúmeras gerações de violetas, desde que houve violetas. Mas escutei no silêncio da noite e ouvi o mundo superior dizer a este mundo: "O alvo da vida é atingir o que há de além da vida." — Pedi então à Natureza — que nada mais é do que a exteriorização de nossos sonhos invisíveis — transformar-me em rosa. E a Natureza acedeu ao meu desejo. Vivi uma hora como rosa. Vivi uma hora como rainha. Vi o mundo pelos olhos das rosas. Ouvi a melodia do éter com o ouvido das rosas. Acariciei a luz com as pétalas das rosas. Pode alguma de vós vangloriar-se de tal honra? - Morro agora, levando na alma o que nenhuma alma de violeta jamais experimentara. Morro, sabendo o que há atrás dos horizontes estreitos onde nascera. É esse o alvo da vida.

Gibran Khalil Gibran

2 comentários:

Renato Ribeiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Renato Ribeiro disse...

Esse texto excelente de Gibram me lembrou esta letra de música:

"Fruto do mundo
Somos os homens:
Pequenos girassois
Os que mostram a cara
E enormes as montanhas
Que não dizem nada.

Incapaces los hombres
Que hablam de todo
Y sufrem callados"

Raul Seixas