
Na situação atual em que nos encontramos. Onde ficar alegre com o que é feito pelo homem é quase impossível. Temos que olhar para as poucas pessoas que realmente produziram o bem.
Gibran Khalil Gibran foi uma dessas pessoas! Nasceu no Líbano em 1883. E além de poeta, escritor, artista plástico, filosofo, foi um revolucionário! É, para todos que estão decepcionados com a humanidade, um Oasis onde se pode descansar e desfrutar da grandeza que o homem poderia ser.
Sem mais delongas, mais um texto que você nunca vai ver na mídia...
Wagner S. Simeone
A violeta que se tornou rosa
Havia num bosque isolado uma bonita violeta que vivia satisfeita entre suas companheiras.
Certa manhã, levantou a cabeça e viu uma rosa que se balançava acima dela, radiante e orgulhosa.
Gemeu a violeta dizendo:
- Pouca sorte tenho eu entre as flores! Humilde é meu destino! Vivo à terra, e não posso levantar a face para o sol como fazem as rosas.
A natureza ouviu, e disse à violeta:
— Que te aconteceu, filhinha? As vãs, ambições apoderaram-se de ti?
— Suplico-te, ó Mãe poderosa, disse a violeta:
— Transforme-me em rosa, por um dia só que seja.
— Tu não sabes o que estás pedindo, retrucou a Natureza.
— Ignoras o que se esconde de infortúnios atrás das aparentes grandezas.
— Transforma-me numa rosa esbelta e alta, insistiu a violeta. E tudo o que me acontecer será a conseqüência dos meus próprios desejos e aspirações.
A Natureza estendeu sua mão mágica, e a violeta tornou-se uma rosa suntuosa.
Na tarde daquele dia, o céu escureceu-se, e os ventos e a chuva devastaram o bosque.
As árvores e as rosas foram abatidas.
Somente as humildes violetas escaparam ao massacre. E uma delas, olhando em volta de si, gritou às companheiras :
— Hei, vejam, o que a tempestade fez das grandes plantas que se levantavam com orgulho e impertinência.
Disse outra: — Nós nos apegamos à terra; mas escapamos à fúria dos furacões.
Disse uma terceira: — Somos pequenas e humildes; mas as tempestades nada podem contra nós.
Então a rainha das violetas viu a rosa que tinha sido violeta, estendida no chão como morta. E disse:
— Vejam e meditem, minhas filhas, sobre a sorte da violeta que as ambições iludiram. Que seu infortúnio lhes sirva de exemplo! Ouvindo essas palavras, a rosa agonizante estremeceu e, apelando para todas as suas forças, disse com voz entrecortada:
— Ouvi, vós, ignorantes, satisfeitas, covardes. Ontem, eu era como vós, humilde e segura. Mas a satisfação que me protegia também me limitava. Podia continuar a viver como vós, pegada à terra, até que o inverno me envolvesse em sua neve e me levasse para o silêncio eterno sem que soubesse dos segredos e glórias da vida mais do que as inúmeras gerações de violetas, desde que houve violetas. Mas escutei no silêncio da noite e ouvi o mundo superior dizer a este mundo: "O alvo da vida é atingir o que há de além da vida." — Pedi então à Natureza — que nada mais é do que a exteriorização de nossos sonhos invisíveis — transformar-me em rosa. E a Natureza acedeu ao meu desejo. Vivi uma hora como rosa. Vivi uma hora como rainha. Vi o mundo pelos olhos das rosas. Ouvi a melodia do éter com o ouvido das rosas. Acariciei a luz com as pétalas das rosas. Pode alguma de vós vangloriar-se de tal honra? - Morro agora, levando na alma o que nenhuma alma de violeta jamais experimentara. Morro, sabendo o que há atrás dos horizontes estreitos onde nascera. É esse o alvo da vida.
Gibran Khalil Gibran
2 comentários:
Esse texto excelente de Gibram me lembrou esta letra de música:
"Fruto do mundo
Somos os homens:
Pequenos girassois
Os que mostram a cara
E enormes as montanhas
Que não dizem nada.
Incapaces los hombres
Que hablam de todo
Y sufrem callados"
Raul Seixas
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