quarta-feira, 14 de julho de 2010

Reflexões de um escravo diante das guerras

Este texto foi obra de Renato Ribeiro,e retirado do blog Setor X.
Por ser um texto que não se encontra na mídia, e também por ser um relato indignado de uma pessoa que nada pode fazer a não ser se revoltar contra essa vergonhosa dominação global (Globalização se preferir). Posto seu texto aqui. Um refúgio, onde quem ainda tem alma pode gritar, mesmo que não seja ouvido por muitos.

Entristece perceber que a criatividade do homem para fazer a guerra é incrível, assim como a capacidade de fazer propaganda dela e criar na mente das pessoas a idéia de que a guerra é um processo natural na evolução humana, uma luta dos justos contra os injustos, do bem contra o mal. Querem que pensemos que vivemos entre super heróis, dispostos a nos salvar dos perigos que rondam a humanidade, como em um desenho animado que embalava nossas fantasias infantis.

Vivemos entre lobos e somos seu pasto, mas amamos nossos algozes e rezamos por eles nas igrejas da ignorância. Cada dia mais cegos, acordamos cedo, saímos para o trabalho e dormimos tarde tentando compensar a ausência de lazer em nosso lar.

A mídia nos faz crer que vivemos no sistema mais justo de todos, que nossos empregos são uma bênção proporcionada por grandes homens que tiveram a coragem de empreender e montaram um império econômico gerador de empregos para todos nós. Somos ensinados a idolatrar esses senhores e vê-los como heróis corajosos, que se arriscaram e, por isso, merecem o fruto da fortuna colhido. Grande falácia! Basta analisar o passado destes “heróis”, para notarmos estranhas coincidências entre suas raízes hereditárias e a de outros conhecidos exploradores, saqueadores, déspotas e conquistadores.

Vendem-nos o sonho capitalista na possibilidade que o sistema dá de ascensão social pelo trabalho, mas o trabalhador, no fim de sua vida, morre nas filas dos hospitais públicos e mendigam a pensão pela qual teria colaborado por toda a vida. Os que se aventuram em ser patrões de si mesmos e iniciam seus próprios negócios são massacrados por um governo que atua unicamente para impedir seu crescimento e manter a hegemonia das grandes corporações, esmagando-lhes o ímpeto com uma carga tributária absurda que os torna incapazes de apresentar no mercado produtos ou serviços a preço realmente competitivo, sem caminhar à bancarrota.

Mas, não contentes em sufocar os pequenos que tentam crescer, o sistema se encarrega de saquear aqueles que já são grandes e dominam outras regiões ou se apossar dos recursos que possam tornar outras regiões grandes e competitivas, eliminando ameaças ou potenciais ameaças ao reinado dos de sangue nobre.

Nós, o povo, em grande maioria, somos totalmente ignorantes e alheios. Distraídos por eventos esportivos, festividades e pequenos crimes, abrimos os jornais e nos deparamos com o constante barril de pólvora e desconforto gerado pelas potências contra este ou aquele povo tido como a bola da vez, mas cremos realmente lidarmos com uma força de paz, uma luta pela libertação de um país ou qualquer outra desculpa, quando, não-coincidentemente, entre toda esta tensão, sempre há uma grande possibilidade de benefício econômico, quando sufocadas estas “nações hostis”.

Por isso me pergunto: o que seria a guerra em seu aspecto mais prático? Diante do observado, não posso deixar de pensar que a guerra é uma demonstração de força em prol do egoísmo de uma elite, tentando dominar economicamente um grupo possuidor de recursos que lhe interesse; é a renovação do pacto do homem com seu lado irracional que o domina, onde os sentimentos de posse, típicos dos animais mais ferozes, se manifestam no desejo de supremacia e conquista.

Infelizmente, não se usa o mesmo empenho para realmente fazer o homem evoluir, investindo na humanidade e dissolvendo os privilégios, dando oportunidade de crescimento, ao menos intelectual, a todos. Mas isso também seria perigoso, pois poria em risco essa minoria que agrupa a quase totalidade dos tesouros terrestres, já que a capacidade de enxergar a verdade gerará, de certo, a revolta daqueles que foram manipulados por séculos a fio.

Por isso, convivemos hoje com o paradoxo da alta tecnologia e a total ausência de recursos. Assim que desligamos o computador, fechamos a porta da nossa casa e nos deparamos com uma pessoa, tão humana quanto nós, dormindo na calçada, sem o básico para sua dignidade, devemos compreender que essa pessoa tem, no âmbito social, mais semelhanças do que diferenças conosco: elas são o resultado final do que produzimos, ao anularmos nossas vidas, cedendo tantas horas de dedicação ao crescimento de nossos senhores .

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