segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A trégua de Natal de 1914


Dezembro esta chegando, e com ele o natal. Com a comercialização desta data, e a falta de respeito por parte daqueles que não acreditam em cristo, o natal esta há muito perdido para a maioria das pessoas. Entretanto, os poucos que ainda se importam, devem buscar o verdadeiro espírito de natal. Abaixo encontra-se uma história ocorrida em um lugar onde a ultima coisa Esperada seria uma confraternização natalina...
 Na primeira grande guerra, homens na linha de frente, onde horas antes estavam lutando pela própria sobrevivência, experienciaram o significado real do natal, e se confraternizaram, deixando para nós mais do que uma historia, uma lição! É obrigação dos que estão “acordados” manterem vivas histórias como essa. Assim podemos descansar um pouco, e ter a mínima esperança de que o homem ainda pode ser melhor do que é na atualidade. A esses nobres homens que fizeram o impossível, toda a honra e respeito. 

                                              Wagner Simeone

 
Sena do filme "Feliz Natal" (Joyeux Noel)


A trégua de Natal de 1914

A incrível trégua não oficial em 25 de Dezembro de 1914.
Não há a menor dúvida de que realmente aconteceu – a trégua de Natal não oficial de 1914 – mas até hoje, muitas pessoas não estão totalmente a par dos detalhes e extensão deste notável hiato na guerra, que ocorreu durante aquelas poucas horas do quinto mês do primeiro ano de conflito.

Para a maioria das pessoas, a trégua foi observada pelos britânicos e alemães na parte mais ao sul do saliente de Ypres, na Bélgica. Entretanto, ela ocorreu em vários outros pontos do Fronte Oeste e por outros combatentes, notadamente os franceses e belgas, embora o fato que os alemães estavam situados em território francês ou belga inibiu qualquer grande demostração de boa vontade para com os openentes alemães.

Registro histórico das tréguas em tempo de guerra

Tréguas em períodos de guerra não eram tão incomuns. Exemplos de interrupções temporárias em conflitos datam de séculos atrás e incluem as guerras Peninsular e da Criméia (entre os ingleses e franceses na primeira e ingleses e russos na segunda). Histórias similares são contadas a respeido de refeições trocadas entre os lados opostos durante a Guerra Civil Americana e, em 1900, na Guerra dos Boers, na África do Sul.

De fato, em várias arenas da Primeira Guerra Mundial a tradição continuou além do Natal. O extraordinário líder da guerra de guerrilha alemão na África Leste, Coronel Paul von Lettow-Vorbeck, era famoso por suas cavalheirescas – segundo alguns civilizadas – maneiras em que ele conduzia a guerra. Por exemplo, após humilhar as forças indianas lideradas pelos britânicos na batalha de Tanga, no início de Novembro de 1914, líderes de ambos os ladosse reuniram sob uma bandeira branca para trocar opiniões acerca da ação e para compartilhar uma garrafa de brandy.

Entretanto, este estilo de cortesia foi considerado extinto com a aparição da relativamente nova forma de guerra mecanizada que caracterizou a Primeira Guerra Mundial, certamente como era combatida no Fronte Oeste. Apesar disso, não eram incomuns breves cessar-fogo serem taticamente aceitos e observados por uma hora ou mais, como durante o café-da-manhã em setores mais calmos onde apenas poucas jardas separavam as tropas aliadas das germânicas; um caso de “viva e deixe viver”.

Início com árvores de Natal e cantigas

Embora existam muitas histórias individuais acerca de como o Natal não oficial foi iniciado em vários setores, para a maior parte ele foi iniciado pelas tropas alemãs estacionadas defronte às forças britânicas onde uma distância relativamente curta separava as trincheiras ao longo da Terra de Ninguém.

Muitos soldados alemães tinham, como era seu costume na véspera de Natal, começado a montar árvores de Natal, adornadas com velas acesas – com a exceção que, desta vez, foram posicionadas ao longo das trincheiras do Fronte Oeste.

Inicialmente surpresos e, então, desconfiados, os observadores britânicos reportaram a existência delas para os oficiais superiores. A ordem recebida foi que eles não deveriam atirar mas, em vez disso, observar cuidadosamente as ações dos alemães.

A seguir foram ouvidos cânticos de Natal, cantados em alemão. Os ingleses responderam, em alguns lugares, com seus próprios cânticos. Aqueles soldados alemães que falavam inglês então gritaram votos de Feliz Natal para “Tommy” (o nome popular dos alemães para o soldado britânico); saudações similares foram retribuíadas da mesma maneira para "Fritz".

Em algumas áreas, soldados alemães convidaram “Tommy” para avançar pela “Terra de Ninguém” e visitar os mesmos oponentes alemães que eles estavam tão absortos em matar poucas horas antes. Edward Hulse, um tenente dos Scots Guards, com 25 anos de idade, escreveu no diário de guerra do seu batalhão: "Nós iniciamos conversações com os alemães, que estavam ansiosos para conseguir um armistício durante o Natal. Um batedor chamado F. Murker foi ao encontro de uma patrulha alemã e recebeu uma garrafa de uísque e alguns cigarros e uma mensagem foi enviada por ele, dizendo que se nós não atirássemos neles, eles não atirariam em nós”. Consequentemente, as armas daquele setor ficaram silenciosas aquela noite.

A notícia se espalha


Histórias começaram a se espalhar sobre visitas trocadas entre as forças aliadas (incluindo algumas francesas e belgas) e os inimigos alemães. Tais visitas não estavam restritas aos soldados rasos somente: em algumas ocasiões, o contato inicial foi feito entre oficiais, que definiram em conjunto os termos da trégua, acrescentando somente o quanto seus homens poderiam avançar em direção às linhas inimigas.

Estes termos normalmente permitiam o enterro das tropas de cada lado que jaziam ao longo da “Terra de Ninguém”, alguns mortos há apenas uns dias, enquanto outros haviam esperado meses pela dignidade de um funeral – todos, porém, tiveram que ser deixados onde haviam caído, pois metralhadoras cobriam o local onde eles jaziam na desolação entre as trincheiras opostas.

Naturalmente, homens das equipes encarregadas dos funerais entraram em contato com os membros das equipes similares do inimigo quando, então, conversas foram entabuladas e cigarros trocados. Cartas foram encaminhadas para serem entregues para famílias ou amigos vivendo em cidades ou vilarejos beligerantes.

O mais notável de tudo foi, talvez, a história da partida de futebol entre o regimento inglês de Bedfordshire e as tropas alemãs (alegadamente vencido por 3-2 pelos últimos). O jogo foi interrompido quando a bola foi murchada após atingir um emaranhado de arame farpado. Em muitos setores a trégua durou até a meia-noite de Natal; enquanto em outros durou até o primeiro dia do ano seguinte.

Reação oficial e do público

As reações à trégua de Natal vindas de várias fontes vieram em várias formas. Os Governos aliados e o alto-comando militar reagiram com indignação (principalmente entre os franceses). O Comandante-em-Chefe britânico, Sir John French, possivelmente tinha previsto a suspensão das hostilidades no Natal quando emitiu uma ordem antecipada alertando suas forças para um provável aumento da atividade alemã durante o Natal: ele, portanto, instruiu seus homens para redobrar o estado de alerta durante esta época.

Após a trágua ele escreveu severamente: "Eu emiti ordens imediatas para prevenir qualquer recorrência deste tipo de conduta e convoquei os comandantes locais para prestarem contas, o que resultou em punições severas". A igreja Católica, através do Papa Benedito XV, tinha solicitado anteriormente uma interrupção temporária das hostilidades para a celebração do Natal. Embora o Governo alemão tenha indicado sua concordância, os aliados rapidamente discordaram: a guerra tinha que continuar, mesmo durante o Natal.

Quase imediatamente à trégua, as mensagens enviadas chegaram para os familiares e amigos daqueles servindo no fronte através do método usual: cartas para casa. Estas cartas foram rapidamente utilizadas por jornais locais e nacionais (incluindo alguns na Alemanha) e impressas regularmente.

O autor de Sherlock Holmes, Sir Arthur Conan Doyle, comentou em sua história da guerra o “episódio humano em meio às atrocidades que tem manchado a memória da guerra”.

Sir Horace Smith-Dorrien, o Comandante do II Corpo britânico na época, reagiu com uma simples instrução: "O Comandente do Corpo, portanto, ordena aos Comandantes de Divisão para incutirem em todos os seus comandantes subordinados a absoluta necessidade de encorajarem o espírito ofensivo das tropas, enquanto estiverem na defensiva, por todos os meios à sua disposição. Relações amistosas com o inimigo, armistícios não oficiais (i.e. ‘nós não atiramos se vocês não atirarem’, etc.) e a troca de tabaco e outros confortos, não importa o quão tentadores e ocasionalmente agradáveis possam ser, estão absolutamente proibidos".

A visão do soldado no fronte

Nas cartas para casa, os soldados na linha de frente foram praticamente unaânimes em expressar seu espanto com os eventos do Natal de 1914.

Um alemão escreveu: "aquele foi um dia de paz na guerra; é uma pena que não tenha sido a paz definitiva".

O Cabo John Ferguson contou como a trégua foi conduzida no seu setor: "Nós apertamos as mãos, desejando Feliz Natal e logo estávamos conversando como se nos conhecêsse-mos há vários anos. Nós estávamos em frente às suas cercas de arame e rodeados de alemães – Fritz e eu no centro, conversando e ele, ocasionalmente traduzindo para seus amigos o que eu estava dizendo. Nós permanecemos dentro do círculo como oradores de rua. Logo, a maioria da nossa companhia (Companhia ‘A’), ouvindo que eu e alguns outros havíamos ido, nos seguiu... Que visão – pequenos grupos de alemães e ingleses se extendendo por quase toda a extensão de nossa frente! Tarde da noite nós podíamos ouvir risadas e ver fósforos acesos, um alemão acendendo um cigarro para um escocês e vice-versa, trocando cigarros e souvenires. Quando eles não podiam falar a língua, eles tentavam se fazer entender através de gestos e todos pareciam se entender muito bem. Nós estávamos rindo e conversando com homens que só umas poucas horas antes estávamos tentando matar!"

Bruce Bairnsfather, o autor dos famosos cartuns ‘Old Bill’, resumiu os sentimentos de muitas das tropas britânicas quando ele escreveu: "Todos estavam curiosos: ali estavam aqueles malditos comedores-de-salsicha, que tinham começado aquela infernal guerra européia e, ao fazer isso, nos enfiaram no mesmo lamaçal junto com eles... Não havia um átomo de ódio em qualquer dos lados aquele dia e ainda, no nosso lado, nem por um momento havia a vontade de guerrear e a vontade de deixá-los relaxados".

Uma vez e somente uma

No entanto, a reação foi de tal monta que precauções especiais foram tomadas durante os Natais de 1915, 1916 e 1917, usando mesmo o expediente de realmente aumentar os bombardeios de artilharia. Os eventos do final de Dezembro de 1914 nunca mais foram repetidos.

Investigações foram conduzidas para determinar se a trégua não oficial foi de alguma maneira organizada de antemão; o resultado da apuração foi negativo. Aquilo foi um evento genuinamente espontâneo, que ocorreu em alguns setores mas não em outros.

Embora a história dos conflitos inclua numerosos exemplos de gestos generosos entre inimigos, a trégua de Natal no Fronte Oeste foi talvez o mais espetacular e, certamente, o mais renomado de seu tipo. Boa vontade para todos os homens – por um período.


Fonte: First World War.com (http://www.firstworldwar.com/)





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