domingo, 22 de janeiro de 2012

Em pleno céu




Por Fauzi Maaluf:


Entre minha alma e meu corpo acorrentado, existe um abismo que me inspira horror.
Estou sobre a terra e ela esta além do éter; sou escravo e ela, livre.
Sou escravo da vida e da morte; caminho apesar de mim mesmo, do berço ao túmulo.
Escravo das leis injustas que a mão do mais forte traçou com uma pena umedecida no sangue do mais fraco e cujo ranger de dentes é a queixa da vítima.
Sou escravo do destino que me enche a alma de terror, anuncie êle um nascimento ou uma morte.
Escravo de uma civilização da qual, por ignorância, vemos apenas a superfície.
Escravo de meu dinheiro ganho pelo meu cansaço, sucumbo ao peso de seu jugo.
Escravo de meu nome, vou consumindo meu corpo e alma para ganhar a imortalidade.
Escravo do amor que guardei no coração e que queima meu peito com seu fogo ardente.
Cego, caminho pela mão da cega escravidão, guiado pela ilusão...
Só minha alma é livre, pois a poesia desprendeu suas asas, e ela alçou vôo mais alto do que as águias, em direção ao mundo eterno, para viver livre entre seus jardins e suas águas.


Fauzi Maaluf nasceu em Zahle, Líbano, em 1899, e morreu em São Paulo, Brasil, em 1930. É autor de um célebre livro de poemas "Sôbre o Tapete do Vento".


 Retirado do livro: As mais belas páginas da literatura Árabe (Página 242)

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