Posto a tradução desta conferência para todos que, assim como eu, não são possuidores de conceitos pré-estabelecidos sobre qualquer tema. Convido-os a analisar o discurso do presidente do Irã Mahmud Ahmadinejad, e desafio-os a encontrar qualquer pensamento ou frase que reflita ódio, racismo, ou loucura. Não farei aqui, como se faz em todos os meios de comunicação, não tentarei enfiar em suas cabeças minha opinião. Peço apenas que leiam e avaliem o conteúdo, de acordo com a consciência individual, e não com o pensamento fabricado pelo jornal das dez.
Wagner S. Simeone
Ilustre Presidente da Conferência, ilustre Secretário-geral da ONU, ilustre Alto Comissário da ONU para Direitos Humanos. Senhoras e senhores.
Estamos reunidos para dar prosseguimento à Conferência Durban 2001 contra o racismo e a discriminação racial, para definir mecanismos que permitam pôr em ação nossas campanhas humanitárias e religiosas.
Ao longo dos últimos séculos, a humanidade tem passado por grandes sofrimentos e dores terríveis. Na Idade Média, condenavam-se à morte pensadores e cientistas. Depois se seguiu um período em que se praticaram a escravidão e o comércio de seres humanos. Inocentes eram capturados aos milhões, separados de suas famílias e entes queridos, para serem levados à Europa e à América, sob as piores condições. Período de trevas, em que a humanidade também conheceu a ocupação, a pilhagem e os massacres de inocentes.
Muitos anos passaram-se antes que as nações se erguessem e lutassem pela liberdade, pela qual sempre pagaram preço muito alto. Perderam-se milhões de vidas na luta para expulsar ocupantes e estabelecer governos nacionais independentes. Mas não demorou muito para que saqueadores do poder político impusessem duas guerras à Europa, que também varreram como praga parte da Ásia e da África. Essas guerras terríveis custaram a vida de cem milhões de pessoas e provocaram devastação massiva em todo o mundo. Se a humanidade tivesse aprendido o que havia a aprender daquelas ocupações, dos horrores e crimes daquelas guerras, já haveria um brilho de esperança para o futuro.
Os poderes então vitoriosos se auto designaram de conquistadores do mundo, ignorando ou sub valorizando os direitos de outras nações e impondo leis de opressão e de arranjos internacionais.
Senhoras e senhores, consideremos por um momento o Conselho de Segurança da ONU, que é uma das heranças deixadas pelas duas Grandes Guerras Mundiais.
Que lógica há nesse Conselho de Segurança em assegurar apenas a alguns países o Direito de Veto?
Como essa lógica se harmonizaria com os valores humanitários ou espirituais? Não seria essa lógica sempre discrepante dos princípios de Justiça, de Igualdade de todos ante a Lei, do amor e da dignidade humana? O Direito de Veto não lhes parece sempre discriminatório e injusto, e não implica sempre na violação de direitos humanos e de humilhação da maioria das nações e países?
O Conselho é o mais alto órgão político de decisões do planeta, para salvaguardar a paz e a segurança mundiais. Mas como se pode esperar que realize a justiça e a paz, se a discriminação está ali convertida em lei, e se a própria a lei é constituída mediante a coerção e o arbítrio, e não pela justiça e respeito aos direitos de todos?
A coerção e a arrogância estão na origem da opressão e das guerras. Embora muitos condenem, em seus discursos e slogans, a discriminação racial, alguns países muito poderosos têm sido autorizados a decidir sobre suas políticas racistas, baseados apenas em seus interesses e no seu próprio juízo. Assim têm podido facilmente violar todas as leis e todos os valores humanitários.
Logo depois da Segunda Guerra Mundial, alguns daqueles países recorreram à agressão militar para arrancar de suas terras e de seus lares toda a população de uma Nação, sob o pretexto de que os judeus sofriam horrivelmente; aquelas nações enviaram migrantes refugiados para toda a Europa, para os Estados Unidos e para outras partes do mundo, e estabeleceram um governo totalmente racista na Palestina ocupada. De fato, em compensação pelas terríveis conseqüências do racismo na Europa, ajudaram a implantar, na Palestina, o mais cruel e repressivo regime racista.
O Conselho de Segurança ajudou a estabilizar o regime ocupante e apoiou-o durante os últimos sessenta anos, dando-lhe pleno direito de cometer todos os tipos de atrocidades. É lamentável, sob todos os aspectos, que alguns governos ocidentais, e o governo dos Estados Unidos, tenham-se comprometido na defesa desses racistas genocidas, enquanto a consciência dos homens e mulheres livres em todo o mundo condenavam a agressão, as brutalidades e os bombardeios contra civis em Gaza, na Palestina. Os apoiadores de Israel têm defendido esses crimes ou silenciado sobre esses crimes.
Amigos, ilustres Delegados, senhoras e senhores. Onde estão as causas alegadas para os ataques dos Estados Unidos contra o Iraque, ou da invasão do Afeganistão?
Não é outro o motivo que levou à invasão do Iraque, se não a arrogância do anterior governo dos Estados Unidos e a pressão crescente dos mais ricos e poderosos que visam sempre expandir a sua esfera de influência. Aí estão os interesses da poderosa indústria de armamento, destruindo uma cultura de mil anos, nobre em todos os sentidos, de longuíssima história. Tentam eliminar a potência e a ameaça direta que os países muçulmanos apresentam hoje ao regime sionista, e enquanto defendem esse regime, querem também assenhorear-se das fontes de energia do povo iraquiano?
Por que, afinal, quase um milhão de seres humanos foram mortos ou feridos e mais outros milhões foram convertidos em exilados e refugiados? Por que o povo iraquiano sofre perdas que já alcançam as centenas de bilhões de dólares? E por que o povo dos Estados Unidos teve de ver consumirem-se bilhões de seus dólares, como custo dessas ações militares? A ação militar contra o Iraque não terá sido planejada pelos sionistas e os seus aliados no governo dos Estados Unidos, cúmplices dos países fabricantes de armas e dos senhores da riqueza do mundo? A invasão do Afeganistão terá, por acaso, restaurado a paz, a segurança e o bem-estar econômico naquele país?
Os Estados Unidos e os seus aliados fracassaram na missão de conter a produção de drogas no Afeganistão. O cultivo de narcóticos multiplicou-se, depois da invasão. A pergunta necessária é: Quem responderá pelo que fizeram o governo anterior dos Estados Unidos e os seus aliados, naquela parte do mundo?
Representavam ali os países do mundo? Receberam de alguém algum mandato? Foram autorizados pelos povos do mundo a interferir em todos os lugares do globo, e sempre mais intensamente na nossa Região? Não serão a invasão e a ocupação, exemplos claros de autocentrismo, de racismo, de discriminação e de violência contra a dignidade e a independência de tantas nações?
Senhoras e senhores, quem é responsável pela crise econômica pela qual passa o mundo? Onde começou a crise? Na África? Na Ásia? Ou começou nos Estados Unidos, contaminando em seguida toda a Europa e os aliados dos Estados Unidos?
Por longo tempo, usaram o seu poder político para impor regras econômicas desiguais na economia internacional. Impuseram sobre nações e governos que nada podiam, um sistema financeiro e monetário sem um adequado mecanismo de supervisão internacional, no sentido de conter tendências ou políticas desastrosas. Nem sequer permitiram que outros povos e países supervisionassem ou monitorassem as suas políticas financeiras.
Introduziram leis e regulamentações que agrediam todos os valores morais, exclusivamente para proteger interesses desses senhores da riqueza e do poder.
Mais ainda, apresentaram uma definição de economia de mercado e de competição que nega muitas das oportunidades econômicas que poderiam ser acessíveis para outros países do mundo. Também transferiram seus problemas a outros, enquanto ondas de crises repercutiam sobre a própria economia, gerando milhares de bilhões de déficit no orçamento. E hoje, estão injetando centenas de bilhões de dólares, tirados de seu próprio povo e de outras nações, para ajudar bancos, companhias e instituições financeiras falidas, o que torna a situação cada vez mais complicada para a sua própria economia e para o seu próprio povo. Estão pensando simplesmente em manter o poder e a riqueza.
Não dão nenhuma atenção aos povos do mundo, nem sequer ao próprio povo.
Senhor Presidente, senhoras e senhores, o racismo nasce da falta de conhecimento sobre as raízes da existência do homem como criaturas escolhidas por Deus. Também é produto de desvio do verdadeiro caminho da vida humana e das obrigações da humanidade na criação do mundo, que leva a falhar em seus deveres de conscientemente servir a Deus; nasce também de não se saber pensar sobre a filosofia da vida, ou sobre o caminho da perfeição que são os principais ingredientes dos valores divinos e humanitários. Assim, essas ignorâncias restringiram o horizonte do olhar humano, tornando-o superficial, e tomando, como instrumento de sua ação, só os interesses mais limitados. É por isso que o poder do mal ganhou forma e expandiu os seu domínio, ao mesmo tempo em que privou outros de todas as oportunidades justas e igualitárias de desenvolvimento.
O resultado foi o surgimento de um racismo sem limites que é hoje a mais grave ameaça que pesa sobre a paz internacional e tem comprometido todos os esforços para construir a coexistência pacífica em todo o mundo. Sem dúvida, o racismo é o principal símbolo da ignorância; tem raízes históricas e, de fato, é sinal de que o desenvolvimento de uma sociedade humana foi frustrado.
É, portanto, crucialmente importante denunciar as manifestações de racismo em todas as ocasiões e em todas as sociedades nas quais prevaleçam a ignorância e pouca sabedoria.
A consciência e a compreensão geral da filosofia da existência humana é o principal objetivo e princípio da luta contra as manifestações de racismo, e revela a verdade: Os seres humanos são o centro da criação do universo. A chave para resolver o problema do racismo é o retorno aos valores espirituais e morais e, afinal, implica voltar a servir a Deus Todo-Poderoso.
A comunidade internacional têm de iniciar movimentos que visem a ampliar a consciência coletiva, sobretudo nas sociedades em que o racismo e a ignorância prevaleçam; só assim por-se-á fim ao avanço dos danos causados pelo racismo, que é perverso.
Caros amigos. Hoje, a comunidade humana enfrenta um tipo de racismo que macula a imagem de toda a humanidade, no início do terceiro milênio.
O sionismo mundial personifica o racismo que é falsamente atribuído a religiões mas, de fato, abusa dos sentimentos religiosos para esconder sua horrenda face de ódio. Contudo, é importante que não percamos de vista os objetivos políticos de alguns dos poderes mundiais, dos que controlam os imensos recursos econômicos e os lucros, no mundo. Mobilizam todos os recursos, inclusive a influência econômica e política e a mídia em todo o mundo, para tentar ganhar apoio para o regime sionista e para ocultar a indignidade e daquele regime.
Não se trata aqui de simples questão de ignorância. Ninguém pode pôr termo a esses horrores mediante campanhas consulares e diplomáticas. É preciso trabalhar com muito empenho para deter os abusos praticados pelos sionistas e seus apoiadores políticos e internacionais, e para fazer respeitar o desejo e as aspirações dos povos. Os governos anti-sionistas devem ser encorajados e apoiados com vistas a erradicar esse racismo bárbaro e para que se reformem os mecanismos internacionais hoje existentes.
Não há qualquer dúvida de que todos os senhores aqui presentes têm perfeito conhecimento da conspiração movida por alguns governos e pelos círculos sionistas contra as metas e os objetivos desta Conferência.
Infelizmente, houve declarações e declarações de apoio aos sionistas e seus crimes. É dever e responsabilidade dos respeitáveis representantes de todas as nações desmascarar essa campanha que corre na direção oposta a todos os valores e princípios humanitários.
Deve-se reconhecer e declarar que boicotar uma reunião como esta, e tentar degradar a excepcional capacidade política internacional que aqui se encontra, é a manifestação de apoio aos racistas, e também é escandaloso exemplo de racismo.
Para defender os direitos humanos, é fundamentalmente importante, em primeiro lugar, defender os direitos de todas as nações do mundo, de participar em condições de igualdade no processos de tomar toda e qualquer decisão, sem qualquer tipo de pressão que venha apenas de uns poucos poderes mundiais. Em segundo lugar, é necessário reestruturar as organizações internacionais existentes e suas respectivas constituições e acordos. Esta Conferência, portanto, é como um campo de testes. A opinião pública, hoje e no futuro, julgará as nossas ações e as nossas decisões.
Senhor Presidente, senhoras e senhores. O mundo está passando por mudanças profundas e muito rápidas. Relações de poder consideradas estáveis já se mostram frágeis, e muito fracas. Ouve-se o crack dos pilares dos sistemas mundiais. As principais estruturas políticas e econômicas estão em ponto de colapso. No horizonte, já aparecem crises políticas e de segurança. O agravamento da crise da economia mundial, para a qual não se vê futuro melhor, demonstra que estamos sob a força de uma maré de mudanças globais. Tenho repetido e enfatizado que é necessário que o mundo abandone a rota desorientada em que caminhou por tanto tempo, e na qual ainda insiste. Também tenho alertado por vezes repetidas contra as terríveis conseqüências de qualquer desatenção a essa responsabilidade crucial.
Aqui, nesta importante Conferência, entendo que já possa declarar a todos os líderes do mundo, aos pensadores e a todos os povos de todas as nações do planeta aqui representados, e que anseiam por paz e bem-estar econômico, que aquela ordem injusta que comandou o mundo, já chega, hoje, ao fim da sua caminhada. É fatal que aconteça, porque a lógica desse poder imposto sempre foi a lógica da opressão.
A lógica do governo compartilhado e dos negócios planetários deve-se basear nos mais nobres anseios que há em todos os seres humanos e na supremacia de Deus Todo-Poderoso. Portanto, operará tão mais eficientemente quanto mais se façam ouvir todas as vozes de todas as nações. A vitória do bem sobre o mal e a construção de um sistema mundial justo é promessa que Deus e seus mensageiros fizeram à humanidade. Esse sistema mundial justo tem sido objetivo partilhado de todos os seres humanos e de todas as sociedades ao longo da história. Realizar esse futuro depende de conhecer o espírito da criação e a força da fé dos crentes.
Construir uma sociedade global é, afinal, alcançar o alto objetivo de estabelecer um sistema global comum, do qual participem todas as nações do mundo, ouvidos todos, em todos os processos de decisão, com vistas a esse mesmo objetivo.
Capacidades científicas e técnicas e tecnologias de comunicações criaram novas vias de entendimento para a sociedade mundial, entendimento partilhado e disseminado; essa é a base essencial para um sistema comum. Cabe, doravante, aos intelectuais, pensadores e construtores de políticas, em todo o mundo, assumir a responsabilidade de cumprir esse seu papel histórico, com firme crença de que esse é o caminho a seguir.
Quero também destacar o fato de que o liberalismo e o capitalismo ocidentais não se mostraram suficientemente potentes para perceber a verdade do mundo e dos homens como realmente são. Sempre tentaram impor a todos objetivos e rumos que eram só deles, e sem qualquer atenção aos valores humanos e divinos de justiça, liberdade, amor e fraternidade; sempre viveram em intensa competição, pensando mais, sempre, em interesses materiais, individuais e corporativos.
É tempo de aprender com a experiência e iniciar esforços coletivos para enfrentar os desafios que aí estão. Nessa mesma linha de argumento, quero chamar-lhes a atenção ainda para duas questões importantes:
Primeiro, que é absolutamente possível melhorar a situação em que o mundo vive hoje. Mas deve-se observar que, para tanto, é indispensável que todos os povos e países cooperem, com vistas a construir um mundo melhor para todos, fazendo render o máximo possível, para todos, todas as capacidades e os recursos com que o mundo conta hoje.
Participo hoje, presente nesta Conferência, porque tenho a firme convicção de que as questões que aqui se discutem são importantes. E porque é dever de todos, e é responsabilidade comum de todos, defender os direitos de todas as nações contra o racismo sinistro, aqui, e solidários aos melhores pensadores do mundo.
Em segundo lugar, considerada a ineficácia do sistema político, econômico e de segurança hoje vigentes, é indispensável voltar a considerar os valores humanos e divinos, a verdadeira definição do homem e da humanidade, baseada na justiça e no respeito aos valores de todos os povos, em todo o mundo. Para isso, é necessário denunciar os erros e vícios dos sistemas que até hoje governaram o mundo; e é necessário que tomemos medidas coletivas para reformar essas estruturas existentes.
Para tanto, é crucialmente importante reformar imediatamente a estrutura do Conselho de Segurança, com imediata eliminação do discriminatório Direito de Veto; e é preciso mudar os sistemas financeiro e monetário mundiais. Claro que, quanto menos se compreenda a urgente necessidade de mudar, mais nos custarão os adiamentos e atrasos.
Caros amigos. Andar na direção da justiça e da dignidade humana é como seguir o fluxo rápido das águas de um rio. Tenhamos sempre em mente a potência do amor e do afeto.
O futuro prometido para todos os seres humanos é patrimônio valiosíssimo. Temos de nos manter unidos para construir outro mundo possível.
Para que o mundo seja um lugar melhor, cheio de amor e de bênçãos, um mundo onde não haja nem ódio nem pobreza, mundo abençoado por Deus Todo-Poderoso, que levará à realização de todas as perfeições dos seres humanos, temos de nos dar as mãos em amizade e solidariedade, e trabalhar para realizar esse mundo melhor.
Agradeço ao Presidente da Conferência Durban II, ao Secretário-geral e a todos os ilustres participantes, a paciência com que me ouviram. Muito obrigado.
Abaixo Video da conferência:
http://www.youtube.com/watch?v=LL5OsaVYz1I&feature=player_embedded#at=874
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