Tenho estado, já há algum tempo, com um sentimento profundo , tão profundo que penso ser o grito angustiado de minha alma. Esse sentimento é, na realidade, uma dor intensa , conjunta com uma impotência tão grande que viver tem sido já ah algum tempo um mero contar das horas que se transformam em dias, que por sua vez se transformam em anos.
Tento gozar a vida bebendo alguma coisa, apreciando mulheres, e, na melhor das horas, conversando com amigos. Se pudesse cortar o efeito químico dessas emoções com esses afazeres, poderia então viver feliz, calmo e enganado como toda a gente, mas tenho dentro de mim uma alma que não entende a pequena (Na maioria das vezes nenhuma) importância que tem um homem que nasceu de um povo dominado, trabalhador e mestiço, como o povo de que venho. Sou filho de um bancário e de uma dona de casa. Que se há de fazer uma pessoa como eu, ou mesmo uma pessoa nascida de um ponto do globo mais considerado ou de um berço melhor abastado? Que se há de fazer se, nem ao menos conseguimos nos levantar da mediocridade das massas, já nos cortam a cabeça...
Somos todos escravos! Ser escravo, em si só, já é suficiente para se ver a alegria ir embora, mas, não obstante, me vejo entre escravos que dormem e, nesse sono profundo, sonham que existe democracia, liberdade de escolha, direito de ir e vir e que o mundo realmente melhora com o tempo. Do lado de fora desse sonho (Tristemente de fora, pois, às vezes, não ter consciência do mal nos faz viver melhor, até que o mal nos alcance), vejo um mundo sem liberdade, feio e sem chance. E vejo, com uma dor que nunca passa, toda a gente ir do berço a cova, sem, ao menos, ter a liberdade de entender, que se é escravo...
Que posso eu fazer, contra milênios de dominação político-religiosa? Que posso eu fazer se não chorar, quando vejo um homem se orgulhar de ser um médico, político ou qualquer coisa que já não tenho mais paciência de pensar?
A armadilha foi armada e já faz tanto tempo que não vemos mais a prisão que nos limita.
O mundo era uma promessa, poderíamos ser algo maravilhoso, algo realmente importante, algo que causasse o bem geral e quando digo geral, incluo todo o planeta! Poderíamos ser a maravilha de um mundo sem Deus para nos salvar, pois não haveria mal do qual se necessitasse ser salvo e o humano, propagador do bem maior. Mas somos uma promessa do mal. Um tenebroso mal para nós mesmos.
Somos talvez a exceção a regra de que a natureza seja perfeita ou talvez o meio do caminho de alguma evolução que o ser humano possa vir a ser.
Triste vejo, com visão clara, mas com mãos atadas, o passar de minhas horas neste breve momento da historia do mundo. Sinto-me como um soldado que descobre que não há pelo que lutar ou um doutor que vê a morte em alguém que acabou de operar. Não é bom saber que há algo errado, se ninguém mais vê qualquer coisa errada.
Tem-me sido difícil ir ao trabalho, ou mesmo almejar alguma coisa de coração. Coração.... que coração pode ter um homem que trabalha para pessoas que escravizam seus irmãos, e rouba de sua terra mátria os bens que de direito seriam nossos? Tenho o hilário azar (e me advertem, colocando medo de que Deus um dia pode me tirar o emprego) de trabalhar na área do petróleo. Um dos mais horrendos, e sem escrúpulos ramos de trabalhos já existentes nesse mundo.
Tenho visto chocado, como o ser humano é incapaz de prover o bem pensando no próximo. E o que é pior: “É incapaz de ver que a ele mesmo é feito o bem, quando o bem é feito por ele”.
Espero ansioso o fim tragicômico desta vida de olhos claros para a verdade. Pois só o fim é capaz (já que não se pode esperar que a turba se levante) de fazer minha alma incompreensiva findar a dor que me acompanha ao peito.
Bom,
Após esta animadora expressão de meus pensamentos, convido todos que não se conformam, para que dentro deste espaço desfrutem do pequeno prazer de saberem que não estão sós.
Nenhum comentário:
Postar um comentário